sábado, 15 de março de 2008

Cada um com seu Ponto de Vista


Ponto de Vista (Vantage Point) é um filme que tem uma história um tanto “clichê”: o presidente dos Estados Unidos sofre uma tentativa de assassinato. No entanto, o jeito como o filme é desenvolvido e editado faz toda a diferença. O diretor Pete Travis conseguiu tirar de uma história comum um longa metragem inusitado.
O presidente dos EUA (William Hurt) vai à Espanha. Ele pretende estabelecer um acordo de paz com os países do Oriente Médio, a fim de acabar com o terrorismo. Acompanhado por seus seguranças Thomas Barnes (Dennis Quaid) e Kent Taylor (Matthew Fox), o presidente sobe em um palanque e começa seu discurso. Porém, antes que termine de falar, é atingido por dois tiros. A confusão se instala; pessoas começam a correr. Como se já não fosse ruim, duas bombas explodem no local. Um ataque terrorista em pleno discurso para o fim de tal prática.
O espectador só começa a descobrir o que realmente aconteceu e quem foi o culpado a partir de oito pontos de vistas diferentes: o segurança Barnes, o turista americano (Forrest Whitaker) que filma tudo, uma menina espanhola, a produtora de notícias para TV (Sigourney Weaver), um tira espanhol, dois terroristas e o próprio presidente dos Estados Unidos. Vemos o que aconteceu com cada um quinze minutos antes, durante e depois do ataque.
Surpreendente e muito bem planejado, Ponto de Vista prende a atenção do espectador do começo ao fim. Não por causa do tema que, como já mencionei, é manjado, mas por causa do roteiro muito bem escrito por Barry Levi e pela edição genial de Stuart Baird, Sigvaldi J. Kárason e Valdis Óskarsdóttir.
As atuações estão ótimas. Nem preciso dizer nada do Forrest Whitaker, não esperava nada menos do que ele nos apresenta no filme. Gostei de ver o Matthew Fox (o Jack, da série Lost) em outro projeto que não seja a série da AXN; ele atuou muito bem, além de ter um papel essencial na trama.
Não há nem muito que falar do filme, pois, se eu falar muito, vou estragar. A única coisa que posso dizer é que o espectador tem que ficar atento aos mínimos detalhes da cena. Como eu disse, é um filme muito bem planejado e nada está em cena por acaso. Aliás, a frase do trailer “se acha que viu tudo, olhe de novo” é bem apropriada, foi muito bem escolhida.
Se você não está com vontade de assistir à Ponto de Vista, mude de idéia, porque você vai se surpreender.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Nem em 10.000 A.C


Acho que o título já disse tudo. O filme 10.000 A.C (10,000 BC) é simplesmente chato.
A história se desenrola em torno de D’Leh (Steven Strait), um homem da era pré-histórica, pertencente a uma tribo pouco desenvolvida. Um certo dia, sua aldeia é atacada por outro povo (com mais armas e, portanto, mais forte) e Evolet (Camilla Belle), sua mulher, é levada. D’Leh – que, até então, levava a fama de “covarde” – parte em busca da amada.
A idéia em si não é tão ruim... daria até para tirar algo dela. No entanto, o roteirista e diretor Roland Emmerich foi muito... infeliz (o que me surpreende e me entristece, já que ele dirigiu filmes como Show de Vizinha, Independence Day, O Patriota). Emmerich definitivamente não consegue entreter o espectador em 10.000 A.C. Nós não torcemos para o “herói”; se ele morresse ou vivesse, não faria diferença, a única coisa que desejamos é que acabe logo.
Muitos fatos no filme não são explicados ou são simplesmente bobos. Por exemplo, o pai de D’Leh some da tribo e diz a um amigo que ele nunca deveria contar ao filho o que foi fazer. Pois bem... o que ele foi fazer? Isso não é explicado; vemos apenas que ele não era um covarde (como acreditava seu povo), pois ele ajudou algumas pessoas. Hum... legal.
Há uma cena na qual D’Leh liberta um tigre dente-de-sabre de uma caverna. E aí, obviamente, pensamos “tudo bem, ele vai morrer, o tigre vai mata-lo”. Adivinha? É, o “herói” sai ileso, porque o tigre é inteligente e percebeu que fora salvo. Ele não tem instintos. Tudo bem, até aí eu tolerei porque é um filme um tanto fictício. Mas o tigre aparece uma segunda vez e encara D’Leh. Adivinha? O “herói” diz: “Eu lhe dei a vida. não tire a minha”. E o tigre deve ter pensado “puxa, ele tem razão” porque simplesmente deu meia-volta e foi embora. Um tigre dente-de-sabre. Está bem, então... (à propósito: sim, os pôsters são enganosos, porque mostram D’Leh lutando com o tigre e isso não acontece).

Costumo dizer que tudo tem um lado bom. E 10.000 A.C não é exceção. Apesar do lamentável roteiro e da péssima direção, o filme arrasa em efeitos especiais. Muito bem feito mesmo. Por isso, sinto-me na obrigação de citar os responsáveis pelo único aspecto bom do filme. Aqui vão: Effects, Double Negative, Machine, Gentle Giant Studios, Moving Picture Company, Patrick Tapoulos Design, Tapoulos Studios, The Senate Visual Effects, Star Crest Media. Eu sei que é gente para caramba, mas não podia deixar de agradecê-los por fazer com que minha tarde não fosse um total desperdício.

domingo, 9 de março de 2008

O Orfanato do Terror


Fui assistir ao O Orfanato (El Orfanato) no sábado, ontem, e pensei “puxa, o filme estreou ontem. Hoje é sábado, o cinema deve estar bem cheio e, ainda por cima, a sala é pequena. Então, é bom eu chegar com bastante tempo de antecedência, antes que lote a sessão”. Pois bem, cheguei lá com mais ou menos uma hora e meia de antecedência e fui comprar meu ingresso para O Orfanato. Depois que a moça da bilheteria me deu a minha entrada, eu (ingênua) perguntei a ela: “está lotada a sessão? Vai formar fila para entrar?”. E, para a minha infelicidade, ela me responde o seguinte: “não, está vazio. É que é filme espanhol, ninguém se interessa por ele”. Juro que foi isso que ela disse. Tive vontade de sacar uma arma e dar um tiro na cara da moça, mas coitada! Ela tinha razão. Estava vazio, e só havia três sessões do filme a serem exibidas naquele dia. No sábado! Enquanto filmes como O Meu Monstro de Estimação estão em cartaz há três meses. Isso me deixa possessa.
Uma pena. Público babaca (desculpe-me se você faz parte das pessoas que se negam a assistir ao Orfanato porque não é americano. Mas você é babaca, é a mais pura verdade). E vou dizer agora por quê são babacas.
O Orfanato (dirigido por Juan Antonio Bayona) é de arrepiar. Se você é daqueles que não dorme depois de assistir a filmes sobre espíritos, nem se dê ao trabalho.
Vou ser sincera: adoro filmes de suspense, mas é extremamente difícil fazer um filme desse gênero. Há uma fina linha que separa o suspende e o terror do trash, do ridículo. Ou seja, ou filme é ótimo, ou é péssimo. O Orfanato pertence à primeira opção, e com louvor.
O filme (escrito por Sérgio G. Sánchez) nos apresenta a história de Laura (Belém Rueda), uma órfã que cresce em um orfanato e que, depois de mais velha, volta para seu antigo lar com seu filho, Simon (Roger Príncep), e seu marido, Carlos (Fernando Cayo). Ela pretende abrir novamente o orfanato para receber crianças portadoras de deficiências físicas e mentais. No entanto, seus planos são arruinados quando Simon (que diz ter seis amigos imaginários no orfanato) desaparece. Laura se desespera e desiste da idéia de reabrir o orfanato, mas permanece lá, pois acredita que o lugar trará respostas sobre o paradeiro de seu filho.
Ela vem a descobrir (como já era esperado) que os seis amigos de Simon não são tão imaginários assim. São as crianças que conviviam com ela no orfanato e que morreram depois que ela foi embora.
A atuação de Belém Rueda é fantástica; eu ainda não a conhecia, mas já me tornei sua fã. Ela foi ótima.
Outro ponto forte do filme são os efeitos das câmeras, que sempre percorrem o imenso orfanato, deixando-nos aterrorizados.
Uma curiosidade: o filme é produzido por Guillermo Del Toro, conhecido por O Labirinto do Fauno, vencedor do Oscar. Está aí mais um fato para convencer o público que O Orfanato não é fraco, não.
Apesar de ser assustador, o filme nos traz uma bonita mensagem, mostrando até onde uma mãe pode ir por seu filho (e foi bem longe, considerando que ela desafiou os espíritos, foi muito corajosa).
E o final é fantástico. Totalmente inesperado e, ainda assim, lógico. Extremamente lógico.
Parabéns a J.A. Bayona pelo filme excelente. Muito bom mesmo.
Se você se interessou por O Orfanato, é melhor correr. Infelizmente, não ficará muito tempo em cartaz. E adivinha por que? Sim, por causa do público babaca.

Jogos da Política


O filme Jogos do Poder (Charlie Wilson’s War) é baseado na história verídica do congressista americano Charlie Wilson (Tom Hanks). A história se passa nos anos 1980, e Charlie decide se envolver nos conflitos entre a União Soviética e o Afeganistão. Não só porque ele é um cara bonzinho, mas porque tem medo de que os Estados Unidos venham a se tornar o próximo alvo da URSS. Charlie começa a arrecadar fundos para comprar que o Afeganistão derrube os helicópteros americanos.
Jogos do Poder ainda conta com um elenco de primeira, formado por – além de Tom Hanks – Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. É dirigido por Mike Nichols, escrito por Aaron Sorkin e produzido pelo próprio Tom Hanks.
De um modo geral, o filme ficou muito bom: tem boas cenas, os fatos são bem apresentados, e os atores são excelentes. No entanto, ele é salpicado por discursos e termos políticos, portanto talvez demore um pouco para o espectador “entrar no ritmo” do filme e dos acontecimentos. É necessário saber um pouquinho de história também, já que a União Soviética é a grande “vilã” do filme, obviamente.
O mais fascinante é, sem dúvidas, a atuação de Tom Hanks e seu personagem. Charlie Wilson é o mocinho do filme, mas pode-se chama-lo de anti-herói. Envolvido com stripers, drogas e amizades duvidosas, o congressista tem um “caráter duvidoso”, como ele é definido no próprio filme. Apesar disso, também é mostrado um lado bom de Charles Wilson. Ele parece realmente se sensibilizar quando visita um campo de refugiados afegãos e vê a situação precária na qual aquelas pessoas se encontram.
A edição do filme é muito boa. Usaram um artifício interessante que é a mixagem de cenas reais com cenas fictícias. Isso dá mais credibilidade ao filme e aos fatos apresentados por ele.
Vale a pena conferir Jogos do Poder. Mas se você estiver um pouco enferrujado em história e política, é melhor dar uma lida em alguns livros para não se perder no filme.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Crash, Babel e Polaróides Urbanas


O filme Polaróides Urbanas é, no mínimo, inovador. Sem dúvidas, segue a mesma linha dos filmes Crash – No Limite e Babel.



O filme nos traz as histórias de uma mulher frustrada com seu casamento e sua vida, uma terapeuta com uma filha desequilibrada, uma atriz com síndrome do pânico, uma “perua” que viaja pelo mundo com o marido e uma mulher que dedica sua vida a ajudar possíveis suicidas em potencial. Ao longo da trama, suas histórias vão se entrelaçando através de situações e/ou personagens.


Escrito e dirigido por Miguel Falabella, Polaróides Urbanas conquista extremidades: há que o odeie, há quem o ame. Isso acontece porque o filme leva dentro de si um forte drama e uma boa comédia.


Quem viu o trailer de Polaróides se sentirá um tanto enganado, pois, na propaganda, parece-nos que o filme é uma ótima comédia. No entanto, as únicas partes efetivamente engraçadas são justamente as que aparecem no trailer. Fora elas, há algumas risadinhas e drama, drama, drama...


Miguel Falabella criou esse filme a partir da peça Como Encher Um Biquíni Selvagem, também de sua própria autoria, e que levou um milhão de pessoas aos teatros.


No entanto, apesar de o filme não ser grande coisa, Falabella teve uma boa estréia como diretor de cinema. Não é à toa que o filme já faturou três Lentes de Cristal no Festival de Cinema Brasileiro de Miami: Melhor roteiro (Falabella), Melhor Atriz (Marília Pêra) e Melhor Filme (eleito pelo Júri Popular).


Concordo com todas as premiações. Se Polaróides faturasse Melhor Filme (que acabou sendo levado por Proibido Proibir, de Jorge Durán) , não estaria certo. No entanto, o Júri Popular que o elegeu, e aí tudo bem. O filme realmente é feito para atingir as massas, não é à toa que há diversos gêneros dentro do mesmo filme. Isso pode dar muito certo ou muito errado, como foi o caso do filme 1408, que não teve praticamente lucro nenhum. Felizmente, a tática parece ter funcionado com Polaróides Urbanas.


Miguel Falabella tem futuro como diretor. Ele está no caminho certo, com certeza, pois fazer um filme com várias histórias não é fácil. Marília Pêra e Arlete Salles estavam maravilhosas. É uma pena que Marcos Caruso e Otávio Augusto, ambos mestres em atuação, tenham aparecido tão pouco.


Em todo o caso, vale à pena assistir a Polaróides. É mais um filme brasileiro com uma boa produção, ótima direção e... bem, se é um bom filme, vocês que sabem.